Menu Fechar

O fim da TVR

A história desta carismática marca de automóveis começa em 1947, pela mão de um jovem engenheiro de seu nome Trevor Wilkinson. Naquela época, floresciam em Inglaterra uma série de pequenos construtores automóveis especializados, dos quais a Lotus de Colin Chapman viria a tornar-se a mais representativa, que, com base em chassis e motores existentes e a tendência para usarem motores Ford, produziam pequenos protótipos para as competições da época.

O primeiro TVR, baseado no chassi de um Alvis Firebird, era precisamente um destes veículos, residindo a sua originalidade no facto da carroçaria ser de liga leve. Este carro infelizmente perdeu-se no tempo, mas o chassi 02, virtualmente idêntico, ficou na posse de um proprietário, que chegou a possuir um dos maiores concessionários da marca.

Porventura uma das suas características mais interessantes e um sinal dos tempos que se viviam, num altura em que a matéria-prima escasseava assim como várias peças de alta precisão como alguns instrumentos, está no facto de utilizar um conta-rotações de um Spitfire, o imortal caça britânico que muito fez pela vitória dos Aliados. O motor deste TVR era um simples 4 cilindros Ford 1.1 e a leveza da estrutura permitia uma velocidade interessante, cerca de 130 km/h de velocidade máxima. O primeiro TVR com chassi próprio foi produzido em 1949, sendo movido mais uma vez através de um motor Ford com árvore de cames lateral.

Por altura de 1956, os TVR começaram a ser vendidos nos EUA, e em 1958 o Grantura tinha a sua produção bem estabilizada. A fórmula que iria fazer o sucesso da marca já estava aqui definida: um chassi tubular em aço forte e leve, coberto com uma carroçaria em fibra e um motor grande capaz de boas performances. Tudo somado, obtinha-se um veículo capaz de prestações impressionantes a um preço razoável, tanto mais que o comportamento e a agilidade estavam bem acima da média dos padrões da altura.

Já em 1963 surgiu o primeiro Griffith, o qual era, basicamente, um Grantura modificado para albergar um poderoso V8 americano. Com excelentes prestações, permitiam ao TVR ficar ao nível dos AC Cobra contemporâneos e causavam sérios embaraços aos Ferrari e Jaguar.

Durante essa década a TVR foi estabilizando financeiramente e os Grantura deram lugar aos Vixen e os Griffith aos primeiros Tuscan, enquanto em 1970 mudou-se definitivamente para as actuais instalações na Bristol Avenue em Blackpool. Nos últimos 20 anos a área ocupada registou um enorme crescimento. Dois anos volvidos e foi introduzida a série M, a qual foi vendida como coupé, hatchback e descapotável e cujo modelo turbo acelerava mais rápido do que um Porsche 911 Turbo da época.

Em 1980 chega o Tasmin com um novo chassi, uma nova carroçaria e um novo motor (o v6 2.8 do Ford Capri). Em 1982 dá-se o início da nova era com a compra da TVR pelo actual proprietário, o engenheiro Peter Wheeler. Logo no ano seguinte nasce o primeiro dos TVR propulsionado pelo V8 Rover, o 350i. Ao longo dos anos este foi sendo desenvolvido num carro cada vez mais rápido e sofisticado, com o vértice desta pirâmide a ser atingido em 1988 com o 450 SEAC, cujo V8 4500 modificado pela TVR debitava 324 cavalos.

Mas o verdadeiro virar da página aconteceu um ano antes com a introdução do modelo S, o qual embora esteticamente fosse muito próximo do M era, na realidade, um carro novo que, em apenas um ano, duplicou o número de vendas.

Todavia, o grande responsável pelo grande salto da marca britânica foi a segunda geração do Griffith, o qual no seu primeiro salão registou uma média de uma encomenda em cada oito minutos. Em 1993, a introdução do poderoso Griffith 500 fez dele um clássico instantâneo.

Nos anos que se seguiram, a introdução dos modelos Chimaera e Cerbera consolidaram na época a empresa em termos financeiros, e com o sucesso geral que o novo Tuscan tinha vindo a revelar até então, o futuro parecia assegurado.

Em Julho de 2004, Nikolay Smolensky de 24 anos de idade comprou a empresa de Wheeler, por um valor de 15.000.000 de Libras. Apesar de sua nacionalidade russa, Smolensky disse que pretendia que a TVR permanecesse uma empresa britânica.

Em Abril de 2006, respondendo à queda da procura e respectivamente com a produção em baixa, com rumores de que a produção tinha caído de 12 carros por semana, para 3 ou 4, a TVR demitiu alguns de seus 300 funcionários. Ao mesmo tempo, a empresa anunciou planos para se mudar para umas instalações mais modernas no bairro Squires Gate em Blackpool.

Em Outubro de 2006, Smolensky anunciou que a produção dos chassis e da montagem final da TVR mudaria para Turim, na Itália, e apenas a produção de motores ficaria no Reino Unido. Em protesto contra isso e a mostrar o apoio aos trabalhadores, um grande número de proprietários de automóveis TVR, desfilaram pelo centro de Londres a 26 de Novembro de 2006. A este evento deram o nome de “London Thunder”. Era também uma tentativa de bater o recorde mundial para o maior comboio de automóveis de uma marca registada.

Em Dezembro de 2006, verificou-se que Smolensky tinha dividido a TVR em diferentes empresas. Os direitos de propriedade intelectual da marca haviam sido transferidos para uma empresa chamada Smolensky.

A TVR Motors detinha a licença para as marcas e propriedade intelectual no Reino Unido, bem como as vendas e marketing da marca.

Já a TVR Power, eram os componentes e peças sobressalentes que tinham sido vendidos para uma operação de compra.

Em 13 de Dezembro, Smolensky e director de produção Mike Penny renunciaram aos seus cargos de directores da Blackpool Automotive, sendo substituídos por Roger Billinghurst e por o jovem de 25 anos austríaco de seu nome Angelco Stamenkov. Até 24 de Dezembro a Blackpool Automotive estava em administração judicial. Administradores estavam naquela altura a procurar uma clarificação jurídica sobre a propriedade de determinados bens, incluindo a marca e propriedade intelectual, e para avaliar os activos detidos pela empresa, assim como a quem deviam pagar os avisos de despedimento dos restantes 200 trabalhadores.

Depois em 22 de Fevereiro de 2007, foi revelado que Smolensky iria ser uma vez mais o proprietário da empresa, pois tinha sido o seu dinheiro a ganhar o leilão.

Em 28 de Fevereiro de 2007, menos de uma semana depois de readquirir a TVR, ele informou que tinha planos para vender a empresa a Adão Burdette e Michel Jean Santacreu, e que pretendia exportar automóveis TVR para os Estados Unidos.

No dia 8 de Outubro de 2007 verificou-se que Smolensky ainda estava aos comandos da empresa e estava à espera para reiniciar a produção, com uma meta de 2.000 carros para serem vendidos em 2008. No dia 11 de Julho, a TVR anunciou o relançamento do Sagaris e do Sagaris 2, no seu novo centro perto Wesham em Lancashire. No entanto isso não aconteceu e a empresa não tomou nenhuma atitude por mais dois anos.

Em Junho de 2010, a Gullwing um fabricante alemão, uma empresa alemã especializada que tinha uma participação minoritária na TVR, disse que iria começar a produzir um carro novo a partir de Setembro de 2010. O chefe Juergen Mohr chegou a afirmar: “Tendo sido um proprietário TVR, penso que este será o melhor TVR de sempre.” Ele também confirmou que a empresa estava a planear novos modelos, possivelmente com transmissões alternativas. “Posso imaginar tudo, até mesmo automóveis movidos a electricidade”, disse Mohr.

Em 11 de maio, 2011 a TVR Motors reapareceu com uma nova página online, exibindo o novo logotipo. Oferecia também aos seus clientes a possibilidade de revisionar ou alterar todos os TVR, podendo os Griffen serem transformados em Sagaris. E que aceitariam encomendas de Sagaris, Tuscan, Tuscan MK II, Cerbera, Chimaera Griffith entre outras especificações individuais. Todos os carros teriam um novo motor V8 de origem GM 6.2L com 426 cv e uma caixa de 5 velocidades reforçada.

No final de 2011, a página online da TVR foi relançada e dava a esperança do renascer da marca.

O que infelizmente não iria acontecer, e no dia 12 de Julho de 2012, Nikolay Smolensky confirmou o fim permanente para a produção de automóveis TVR. Afirmando que os custos e as exigências dos clientes eram demasiados altos para a empresa operar lucrativamente. Porém o nome TVR agora é susceptível de ser utilizado numa nova linha de turbinas eólicas portáteis, mas não em automóveis.

É mais uma empresa do ramo automóvel a não resistir à crise mundial, e em especial de um sector que enfrenta uma série de problemas, e onde muitas marcas já foram obrigadas a fechar as suas portas e a mandar milhares de trabalhadores para o desemprego. A TVR era uma marca única e diferente e que ficará para sempre na história pelas suas características e carisma.

Sérgio Gonçalves

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.