A Empresa de design Pininfarina é reconhecida mundialmente como um dos centros nevrálgicos do estilismo no mundo automóvel. Conseguiu este prestigioso reconhecimento após anos de trabalho perseverante e de bons resultados, pois a actividade da Pininfarina começou há alguns anos atrás. Com a morte de Sergio Pininfarina, faz sentido lembrar como tudo começou…
No fim do século 19, a vida era extremamente difícil para muitos, em especial para qualquer casal que tivesse decidido ter 11 filhos. O 10º filho a nascer na família Farina, Christened Battista sabendo das dificuldades da época, em questões tão básicas como a alimentação, decide procurar trabalho na área de Cortanze d´Asti, na cidade de Torino. Com a ideia deque era mais fácil achar trabalho naquela zona. A Battista foi-lhe dada a alcunha de Pinin, que no dialecto da região (Piemonte) significava o filho mais pequeno da família, e essa alcunha acabou mesmo por ficar associada a Battista.
Na mesma altura, outro irmão de Battista de seu nome Giovanni, que também procurava emprego, teve a sorte entre as muitas centenas de candidatos, em arranjar trabalho na produção de carroçarias de Torino de Marcello Alessio. Pinin ia frequentemente visitar o seu irmão depois do trabalho e apaixonou-se de imediato pelos automóveis. Pinin desenhava esboços que tinha visto na Alessio e por vezes fantasiava em relação às possibilidades em desenhar o seu próprio automóvel.
Em 1910, Giovanni tinha já adquirido uma vasta experiência na construção de carroçarias na Alessio e nesse mesmo ano ele despediu-se da empresa e montou a seu próprio negócio na mesma área com os seus irmãos; Carlo e Pinin. A empresa chamar-se-ia Stabilimenti Farina, e permitiu-lhe entrar e conviver no mundo automóvel de topo, e com alguns pilotos importantes do mundo motorizado em Torino. Nomes conhecidos: Lancia, Wagner, Nazzaro, Cagno entre outros.
Pinin ficou responsável pela publicidade e design, e não demorou muito a dar nas vistas, com a Fiat interessada em adquirir ideias para o seu importante modelo “Zero”. Entre reuniões ficou decidido que seriam Farina e Pinin a ficar com a importante tarefa de desenhar um projecto cada. O dono da Fiat, Agnelli abordou Farina para uma opinião e escolheu o seu design em detrimento de Pinin. Não esquecendo Pinin, para o encorajar, Agnelli mais tarde deu a Pinin uma versão (Torpedo) do modelo Zero.
Com o fim da 1ª Guerra Mundial, com a experiência acumulada, e com uma grande ambição levou Stabilimento Farina a querer trabalhar só para si. E o fim da parceria terminaria em 1930.
Carrozzeria Pinin Farina foi estabelecida em Turim (Corso Trapani 107) depois de Vincenzo Lancia ter garantido o seu posto de trabalho, onde a família da sua mulher (Rosa) oferecia garantias financeiras para apoiar a empresa. Num ano ele desenhou um automóvel especial de seu nome Lancia Di Lambda, para a rainha da Roménia. Já nessa altura a imprensa italiana ligada aos automóveis, descreviam-no como o “mestre insuperável na construção de carroçarias”.
A nova companhia começou com 90 trabalhadores e assumiu Franco Martinengo da Stabilimenti Farina como o seu director de estilo. Na altura Pinin declarou que a forma de um automóvel se encontrava limitada pelo peso do radiador dos automóveis. E foi só quando se deu avanços na diminuição do peso como do tamanho dos radiadores que Pinin pode avançar em desenhos mais pessoais nas carroçarias.
O reconhecimento pela excelência dos seus trabalhos pela indústria automóvel mundial, depressa assegurou-lhe várias encomendas, assim como a influência estética dos automóveis americanos (Cord, Studebaker e Buick) permitiram um aproximar em termos de design aos automóveis de corridas. Em 1937 um automóvel “aerodinâmico” deu-se a conhecer ao mundo. O Lancia Aprilia apareceu na Mille Miglia, a sua carroçaria era muito eficiente a nível aerodinâmico para a época e era quase “perfeita”.
Pinin construiu grandes relações comerciais com os grandes produtores de automóveis, ao ponto de ele construir chassis especiais. Eram modificados e permitiam construir carroçarias de forma mais eficiente e simples.
Pinin ganhou inúmeros concursos de automóveis (Concours d’Elegances), antes e depois da guerra, e isso foi muito importante para a sua carreira. Nos dias que correm temos shows como: Pebble Beach, Amelia Island, Het Loo e Villa d´Este. As vitórias nos concursos de beleza deram a Pinin a relevância que pretendia, assim como estatuto no mundo automóvel.
Foi o estabelecimento de Cisitalia em 1947 que deu a Pinin Farina e toda a indústria italiana de carroçarias, o pontapé necessário, o ímpeto para mostrar ao mundo as capacidades e proeminência do design automóvel italiano, em especial de Torino. O bonito e pequeno coupé que Pinin fabricou vai ficar para sempre na história como o primeiro automóvel GT. Pinin continuou a sua ideia e a forma através do Maserati A6 15000 de 1948, do esquecido Fiat 1100S de 1949, pelo Rolls Royce Silver Dawn Due Porte de 1951, até ao Lancia Aurelia B20. No mesmo ano o Cisitalia 202 foi exibido no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque como parte de uma exibição intitulada “Eight Automobiles” e foi descrito por Arthur Drexler como as “esculturas rolantes”.
A determinação de Pinin foi ainda mais evidenciada em 1946 quando na exposição Automóvel de Paris, não estavam preparados para expor automóveis de marcas italianas. Pinin acabou mesmo por preparar a “sua” exposição na rua junto aos portões principais da exposição na cidade francesa. Em 1952 fez outra importante viagem aos Estados Unidos da América e trouxe novos contractos da Nash para produzir o Nash Healey Spider, baseado num chassi inglês com um motor americano, assim como muitos sedans para produção em massa. Esta conexão americana permitiu a Pinin bom avanço estabilidade para décadas que aí viriam.
Porventura a mais duradoura e rentável relação de negócios em que Pinin esteve envolvido, permitiu-lhe nesse ano, no salão automóvel de Paris, apresentar um cabriolet. Era baseado no 212 Inter, chassi de um Ferrari e a sua parceria sobreviveu forte até aos dias de hoje. São exemplos disso os contemporâneos: Ferrari 599 Fiorano, Ferrari California e Ferrari 458 Italia. Esta relação acabou por torna-se mais do que uma ligação entre empresas. A cumplicidade entre Pinin e Enzo Ferrari era muito evidente.
Grande volume de trabalho e produção em massa, a nível de design para muitos construtores começou em 1953, com o lançamento do Peugeot 403 e continuou com o Alfa Romeo Giulietta Spider em 1955, com o Austin A40 em 1958 e mais tarde com o A60. Ficou evidente para Pinin que a única forma da empresa progredir e expandir-se, só era possível com a industrialização total para aumentar a produção. Mas isso levou a um problema de espaço, e a saída de Torino para instalações mais modernas e espaçosas aconteceu em 1958. A cidade escolhida para a mudança foi Grugliasco. Por essa altura já eram quase 1000 os trabalhadores empregados e por 1960 a produção atingia as 11000 carroçarias. Em 1961 a família em reunião decidiu mudar o nome para Pininfarina e a empresa passaria a chamar-se Carrozzeria Pininfarina.
Esta alteração do nome foi aprovada pelo Presidente da Republica Italiana. O Alfa Romeo Duetto de 1966, que seria visto no filme “The Graduate” com Dustin Hoffman, imortalizaria as linhas desenhadas por Pininfarina naquele período.
Sergio, um dos filhos da família Pininfarina viria a tornar-se o director geral da nova empresa em 1961. Depois da morte de Pinin no dia 7 de Abril de 1966, Sergio acabou por se tornar a pessoa mais importante da empresa e Renzo Carli acabou por ficar com o cargo Chefe Executivo. A ligação à Lancia fortaleceu-se e Pinin que havia usado um protótipo do Lancia Florida, como o seu próprio automóvel até à data da sua morte.
O chefe de design Aldo Brovarone que juntamente com Leonardo Fioravanti em 1967 ficou responsável por muitos conhecidos projectos Pininfarina. Aldo acabou mesmo por ficar responsável pelo controlo do “Pininfarina Studi and Reserche” em Janeiro de 1982, numa nova localização em Cambiano, 20 quilómetros perto de Torino, depois da separação da indústria Pininfarina. Fioravanti, juntamente com Antonello Cogotti, também tinha sido responsável pela construção de um túnel de vento (interno) em 1972. Em 1980 o 50º aniversário da Empresa, foi celebrado pela construção do Ferrari Pinin. Este era um Ferrari de 4 portas, com um motor boxer de 12 cilindros também usado no 512. Apesar de Enzo de ter simpatizado com o projecto (concept), e na possibilidade de o construir, Gianni Agnelli acabaria por dizer não, porque ele achava com um carro de 4 portas não se inseria na imagem da Ferrari.
Uma nova fábrica acabaria por ser construída em 1980 para melhor acomodar o corajoso projecto do Cadillac Allante que Pininfarina tinha desenhado e projectado. Um luxuoso coupé, onde as carroçarias foram enviadas por avião, cerca de 56, para Detroit para ser terminadas.
No aspecto industrial, a empresa continuou a crescer e em 1979 mudava a sua designação para Industria Pininfarina S.P.A., pois juntava às suas actividades de projectos de industrialização a produção e montagem de carros completos como o Fiat Campagnola, o Alfa Romeo 33 Giardinetta ou o 124 Spider Europa.
Já na década de 1980, construiu-se uma nova fábrica em San Giorgio Cavanese e conceberam-se o Ferrari Testarossa, o Peugeot 205, o Lancia Thema SW, o Cadillac Allante ou o incrível Lancia 037 Rally. O Peugeot 406 coupé foi o último Peugeot totalmente desenhado por Pininfarina.
Um dos muitos (importantes) projectos e concept´s poderiam só por si encher as páginas de um livro que a empresa produziu ao longo dos anos. Mas como Pinin percebeu, que a empresa só teria sucesso se se industrializasse e expandisse além-fronteiras o negócio de forma a sobreviver, foi justamente o que Pininfarina acabou por fazer. Em 1987 acabou mesmo por participar no desenvolvimento de num novo comboio de alta velocidade em Itália e mais recentemente também participou na renovação do comboio Anglo-francês Eurostar. Outros projectos também incluíram a Tocha das Olimpíadas de Inverno em 2006, carrinhos de compras para os Estados Unidos da América, e também participou como consultora de design para a Coca-Cola FreeStyle.
Apesar das enormes dificuldades que o mundo Automóvel enfrenta nos dias de hoje, e muitas empresas do sector acabam por contratar os seus designers. As 3000 pessoas que estão empregadas na Pininfarina têm sobrevivido aos inúmeros problemas do sector, sem nunca perder a identidade e a noção estética da marca.
Outros projectos que interessa fazer referência incluem: Nuova Stratos, 2UEttottanta, Ferrari 458 Italia, Ferrari P4/5 By Pininfarina, Alfa Romeo Brera, Volvo C70, Maserati Quattroporte, Rolls-Royce Phantom Drophead Coupé, Pininfarina B0 (eléctrico), Alfa Romeo GTV & Spider, interior do Fiat Coupé, Ferrari Mythos, Alfa Romeo 164, Peugeot 205, Ferrari Dyno, e muitos mais.
O legado Pininfarina é um grande marco na história automóvel e em especial no design. A empresa continuou a crescer pela excelente administração do filho Sergio Pininfarina, que como o pai, continuou a esboçar com a sua mão magistral as linhas de alguns dos carros mais admiráveis do mundo. É notável que uma família pobre de uma zona rural no norte de Itália no século 19, tenha conseguido conquistar e estabelecer no mundo automóvel, um marco importante em termos estéticos.
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