O automóvel sempre foi uma paixão do Engenheiro Gordon Murray, mas o sonho que povoava a mente de Murray era um automóvel que quebrasse de forma radical com o tradicionalismo entre os super desportivos. Era a visão de um homem brilhante. Quando começou a pensar o F1 o que tinha em mente era a criação de um Formula 1 para a estrada.
Murray desenhou um esboço do que tinha em mente e entregou-o a Ron Dennis, e a partir daí o projecto começou a ganhar forma. Murray não era um estranho entre os apreciadores de desporto automóvel. Ele já era um conhecido e bem-sucedido engenheiro da Fórmula 1. No seu currículo constava O Brabham BT46B, o Brabham BT55 e o Fórmula 1 mais dominador de sempre na história: O Mclaren MP4/4, que ganhou 15 das 16 corridas possíveis com os pilotos Ayrton Senna e Alain Prost.
Os objectivos passavam por ter um veículo leve e muito potente e com 3 lugares, onde o lugar central no carro tinha o papel preponderante de transmitir sensações como se de um simples monolugar de corrida se tratasse. Esta posição permitia também uma melhor visualização da estrada assim como permitia que o tanque de gasolina pudesse ficar numa posição mais favorável para melhorar o comportamento dinâmico do carro. Provavelmente a única desvantagem desta configuração dos bancos era o difícil acesso ao banco do condutor.
Outra grande inovação era a sua construção toda em fibra de carbono, não só a carroçaria como o próprio chassi. Apesar de na história muitos automóveis já usassem painéis de carbono, kevlar ou alumínio para pouparem no peso, nenhum outro usava um desses componentes em tanta quantidade. A Mclaren sendo pioneira na F1 por ter criado o primeiro chassi monocoque totalmente feito em carbono, neste novo automóvel iria ser aplicado todo esse conhecimento e tecnologia.
A sua filosofia de baixo peso e rigidez ia muito para além do chassi. Os braços das suspensões eram todos feitos em alumínio e maquinados em torno CNC para obter a máxima rigidez com o mínimo peso, tal e qual como na Fórmula 1. Os travões do Mclaren F1 eram da marca Brembo e as pinças monobloco eram também feitas em alumínio para reduzir o peso e massa suspensa. As jantes de 17 polegadas eram feitas a partir de magnésio, um material caro mais ainda mais leve e resistente que o alumínio. Murray acreditava que o baixo peso era fundamental para o sucesso dinâmico do F1, assim como a sua condução deveria ser o mais “pura” possível, não incluindo na construção do carro, equipamentos como ABS, controlo de tracção ou controlo de estabilidade, direcção assistida ou travões com bomba de servo freio.
As coisas mais triviais também foram levadas em conta na construção. Exemplo dessa preocupação com os detalhes mais pequenos, era o facto de o compartimento do motor estar completamente revestido a ouro, porque segundo Murray era o melhor reflector de calor e como tal não era necessário outro tipo de materiais isolantes. O próprio kit de ferramentas do carro era todo feito em titânio.
O banco do condutor era todo feito em carbono e não tinha qualquer tipo de ajustamento. A Mclaren é que colocava o banco do condutor e os pedais ao gosto de cada cliente. Apesar de toda a leveza do F1 e de faltar alguns equipamentos, o carro era bastante prático e confortável para uma condução diária. O Ar condicionado, os vidros eléctricos, fecho centralizado de portas e rádio com caixa de cds eram equipamento standard e permitiam uma utilização do automóvel com conforto q.b..
O F1 pesava apenas 1138kg. Em jeito de comparação um Bugatti EB110 pesava mais 430kg, e nos dias de hoje um Veyron pesa mais 810kg em comparação directa. Apesar de ser menos potente, o antigo Mclaren consegue ter melhor relação peso/potência que o Veyron.
Outro aspecto em que o F1 era tão diferente dos seus rivais mais directos, era a sua reduzida dimensão exterior. Era 640mm mais curto que um Jaguar XJ220, 220mm mais estreito com um Lamborghini Diablo no entanto tinha a maior distância entre eixos o que lhe permitia uma estabilidade a velocidades elevadas notável. Sendo compacto tinha grande vantagem em relação aos seus rivais em estradas estreitas. A sua reduzida superfície frontal permitia-lhe não só uma boa aerodinâmica com um coeficiente de 0.32, como juntamente com o seu poderoso motor quebrar todos os recordes de velocidade à época.
Aerodinâmica activa também fez do F1 um marco histórico que o separava dos restantes super desportivos. Na traseira existem duas ventoinhas eléctricas que permitiam sugar o ar para a traseira criando assim drag para maior estabilidade. Quando o F1 trava, um aileron traseiro eleva-se, criando downforce permitindo maior estabilidade em fortes travagens equilibrando o peso sobre os eixos.
O que era notável é que nada destas funções e características afectavam a beleza do F1. O inglês que o desenhou, de seu nome Peter Stevens já tinha no seu currículo alguns exemplares interessantes: Jaguar XJR-15, Lotus Elan M100 e o Esprit X180.
O desenho do F1 era moderno, contemporâneo, possante e elegante. E possuía muita qualidade na sua construção, os painéis em carbono da carroçaria estavam devidamente alinhados entre eles, sem grandes desvios nas folgas e uma pintura excelente. Tudo isto devido à grande experiência na construção e pintura que a Mclaren sempre possuiu.
As suas portas que abriam para cima, como os Lamborghini, e a sua entrada de ar no tejadilho que percorria uma conduta até ao motor cria um bom exemplo de que as formas podem trabalhar em harmonia com as funções.
O seu “coração” era um motor de 6.1 Litros de capacidade e 12 cilindros de origem BMW. A BMW aceitou o desafio em detrimento da negação da Honda para produzir um motor para o F1. Este era sem dúvida o mais brilhante motor do mundo, nunca antes se tinha criando um motor atmosférico capaz de uma potência específica de 103 cavalos/litro. Nem ninguém tinha criado um motor capaz de 600 cavalos, fiável e com uma aceleração “limpa” e suave. Tinha todo o tipo de tecnologia mais avançada: Bi-Vanos, taxa de compressão 11.0:1, cárter seco, acelerador individual electrónico para cada cilindro, revestimento Nikasil, cabeças e bloco do motor em alumínio, tampas das árvores de cames em magnésio assim como o cárter, e caixa de filtro de ar em carbono. Muitas características que permitiam um baixo peso do conjunto, um rendimento elevado com um tamanho compacto. A caixa de velocidades estava colocada atrás do motor e era produzida pela Weismann. Tinha 6 velocidades e era obviamente manual, assim como não faltava um diferencial autoblocante, essencial para colocar de forma perfeita a potência no chão.
Segundo os relatos da época era um motor notável, não só o seu barulho era viciante, como a resposta pronta ao acelerador deixavam deliciados todos os tiveram o privilégio de o conduzir. Capaz de 627 cavalos de potência às 7400 rotações por minuto permitiram ao F1 protótipo atingir os 371 km/h na pista de Nardo. Este valor era em média 30km/h acima do que os seus rivais conseguiam na altura.
Porém isto não era o potencial máximo do F1. Em Abril de 1998, a Mclaren dirigiu-se à pista de testes da Volkswagen (Ehra-Lessien) com o seu F1 e sem o limitador de rotação às 7500, conseguiu bater o recorde de velocidade nas duas passagens obrigatórias. O valor absoluto foi de 386 km/h e tornava-se assim como o mais rápido automóvel de produção em série, sendo mais rápido que os monolugares de Fórmula 1.
Em resumo, bateu (por muito) categoricamente toda a concorrência em termos de performance e velocidade. Algo que só 12 anos depois foi batido pelo Bugatti Veyron. Mas ao contrário do Veyron, o F1 não dispunha de controlo de tracção, nem tracção às 4 rodas, nem launch control, nem caixa automática e muito menos dispunha de pneus tão avançados como os que se produzem actualmente. A sua velocidade deve-se à relação peso/potência, à excelente aerodinâmica e à distribuição de peso. Características que todos os engenheiros de automóveis adoram, e como tal os condutores mais puristas ainda hoje dizem que o F1 foi sempre o mais completo super desportivo.
A sua produção iniciou-se em 1994 e terminou em Maio de 1998. A Mclaren construiu um total de 100 F1, 72 dos quais eram carros de estrada e o resto eram carros para a competição. Dentro dos que foram produzidos para a estrada, 64 eram os originais, 5 eram a versão LM e 3 a versão F1 GT.
As versões F1 LM eram as mais agressivas em tudo. Era basicamente a versão de estrada do Mclaren GTR de corrida. Com 680 cavalos em vez dos normais 627 da versão de estrada, sem muito do equipamento, 1062 kg de peso (mais leve 76kg), com uma asa enorme na traseira que proporcionava muito mais downforce era de facto um carro de corrida com matrículas. E com o efeito da asa traseira de grandes dimensões não permita velocidade de ponta tão elevada como a versão de estrada, mas a sua aceleração era muito mais poderosa. Chegou mesmo através de um piloto de testes da Mclaren (Andy Wallace) estabelecer outro recorde do mundo, desta vez em aceleração. 0 aos 160 km/h e de novo a 0 em 11,5 segundos.
A outra versão (F1 GT), foi a última a ser produzida. Mecanicamente era pouco diferente do F1 standard, mas em termos estéticos/carroçaria tinha várias alterações. A traseira era mais alongada, assim como a frente para melhorar a aerodinâmica a fim de melhorar o coeficiente. No geral o carro era mais comprido cerca de 120mm, possuía vias mais largas e “saias” laterais para dar um aspecto de perfil mais desportivo e o melhor comportamento em curva.
O Mclaren foi desenvolvido para condutores avançados, não era o mesmo super desportivo que qualquer condutor sem experiência podia conduzir depressa. Os seus controlos, potência e ausência de dispositivos de ajuda à condução não permitiam aos condutores menos experientes grandes aventuras ao seu volante. Ainda assim para quem conseguia “domar” o F1, o prazer de condução era espectacular. A sua história desportiva foi muito importante, pois foi o único automóvel baseado num carro de estrada (produção em série) que conseguiu na era moderna ganhar dois títulos em competições desportivas. O F1 GTR ganhou em 1995 e 1996 o campeonato de GT. Nenhum outro carro era tão versátil.
Os super desportivos estavam em alta no fim dos anos 80 até meio dos anos 90, povoavam os sonhos de inúmeras pessoas. Provavelmente o Mclaren F1 era o mais desejado e o melhor. Não só era o mais rápido, como era o mais exclusivo, mais inovador e repleto de qualidade. E tudo sem deve ao seu criador, Gordon Murray.
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