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Ferrari 288 GTO

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Este é porventura um dos projectos mais atípicos que a Ferrari alguma vez produziu. Não que o 288 GTO fosse algo radicalmente diferente do que a Ferrari até então produzia, mas sim a finalidade que quiseram dar a este modelo. A Ferrari quis com este automóvel participar em algo que nos dias que correm ninguém adivinharia, ou seja a Ferrari quis se bater de igual para igual numa disciplina diferente do que estamos habituados a ver a marca italiana participar.

Foi em 1982 que foram introduzidos os regulamentos elaborados pela FIA para o carismático Grupo B. Estes regulamentos levaram à criação de alguns dos carros de competição mais memoráveis de sempre. São exemplo disso o Lancia 037, o Lancia Delta S4, o Audi Quattro, o Peugeot 205 T16 e o Ford RS200, entre outros. Todos estes modelos foram concebidos para tirar partido desta classe de regras bastante permissivas, mas não foram apenas construídos automóveis de rali para o Grupo B, pois também foram construídos outros automóveis mais específicos para pistas dentro dessa regulamentação.

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Embora a maioria dos fabricantes tivesse a pretensão de participar apenas nos ralis de Grupo B, a Porsche e a Ferrari tinham também a intenção de participar em corridas de circuito. Porém as suas abordagens não poderiam ter sido mais diferentes, em relação aos seus objectivos. Enquanto a empresa alemã preferiu seguir o caminho da alta tecnologia no seu modelo 959, com o seu sistema de tracção integral único e extremamente avançado para à época, já os italianos apostaram na simplicidade, com um carro que combinasse um baixo peso e muita potência. Essa ideia deu origem ao Ferrari 288 GTO.

A sua sigla significava Gran Turismo Omologato (‘Omologato” que em italiano significa homologado). Estas três letras são a referência de um dos Ferrari mais emblemático que existiu e que é por muitos como um dos mais fantásticos Ferrari de todos os tempos: o 250 GTO.

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Então esta sigla montada neste “novo” GTO dava ao carro uma grande responsabilidade em seguir o caminho de sucesso do seu antecessor. O 288 GTO tinha claramente muito para provar durante o seu curto período em que foi lançado, mas a Ferrari não se conteve e assumiu o risco.

Embora o GTO fosse ligeiramente parecido com o Ferrari mais “barato” que a marca italiana vendia naquela época, falamos é claro do 308 GTB, era de facto um carro muito diferente. De a carroçaria do 288 GTO era bastante diferente do 308, ainda assim era possível vislumbrar alguns traços de parecença com o GTO.

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A carroçaria foi projectada e desenhada pela empresa Pininfarina, em especial pelo chefe de design Leonardo Fioravanti. O GTO tinha uma distância entre eixos mais longa que o 308 na ordem dos 110mm, e saliências mais curtas, e foi equipado com guarda-lamas alargados para acomodar rodas mais largas, algo fundamental e necessário para competir. O spoiler dianteiro também era novo, assim como eram os 4 faróis que estavam colocados acima desse. Já na secção traseira do 288 o desenho assemelhava-se muito ao 250 GTO, e foi montado um spoiler integrado na mala do carro, que continha também pequenos orifícios para ajudar a extrair o ar quente do motor.

Assim, ao contrário do 308, o GTO não era um projecto semi-monocoque, pois possuía uma carroçaria separada sobre um chassi tubular de alta resistência fabricado em aço. As portas foram produzidas utilizando essa mesma liga metálica, mas para poupar peso a maior parte dos painéis do carro foram produzidos em fibra de vidro, basicamente algo que já tinha sido feito na produção dos primeiros 308 GTBs, mas que se tinha revelado uma má aposta Algo que a marca depois de ponderar os custos e a própria qualidade, resolveu mudar para o aço.

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Mais invulgar, no entanto, foi o material que a Ferrari usou para produzir a frente do carro e o respectivo capot dianteiro. Nada mais, nada menos, que fibra de vidro Kevlar em favo de mel composto, que dava um composto perfeito em termos de resistência e leveza, tal e qual como eram usados na época, em monolugares de F1 da Ferrari. Por detrás deste tipo de material e construção do GTO, foi responsável o designer da Fórmula o Dr. Harvey Postlethwaite.

Sob a bonita e agressiva carroçaria do GTO, estava um motor V8 com 2855cm3 equipado com dois turbos gémeos do fabricante IHI. O número no seu nome (288) era uma referência aos 2,8 litros e aos respectivos oito cilindros.

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O motor do 288 GTO era uma versão com menos cubicagem (2927cm3) do motor usado no 308 e no Ferrari Mondial. Não foi ao acaso que a Ferrari diminui a cilindrada do motor do GTO, fazia parte da estratégia da marca de forma a cumprir a regra da equivalência da multiplicação da FIA para carros turbinados onde o valor começava nos 1,4 Litros, assim o GTO ficava ordenadamente abaixo da categoria limite de 4000 cm3.

Há outras características que distinguem o 308 do 288, uma delas é forma como o motor central foi montado no GTO, que neste caso foi montado longitudinalmente em vez de transversalmente, razão essa que fez com que houvesse a necessidade de ter uma maior distância entre eixos, tudo isto para ajudar a acomodar os dois novos turbos.

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O Ferrari 288 GTO era de facto demolidor no capítulo da performance, o seu motor produzia cerca de 400 cavalos de potência às 7000 rotações por minuto. A potência era transmitida ao solo através de uma caixa manual de cinco velocidades e um diferencial autoblocante de deslizamento limitado. Assim o GTO conseguia atingir os 100km/h num arranque parado em apenas 4,9 segundos, e quando comparado com o 308 nesse mesmo exercício era quase dois segundos mais rápido.

Já a sua velocidade máxima ultrapassava a mítica barreira dos 300 km/h, mais precisamente 304 km/h. Chegou a ser produzida uma evolução do 288 chamado “Evoluzione”, que era uma versão de competição que reivindicava 650 cavalos de potência e com ajuda de uma relação de caixa mais longa permitia atingir uma velocidade máxima de 362 km/h.

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Como nunca chegou a ver a competição em especial o famoso Grupo B a Ferrari abandonou a ideia de competir com o GTO. Como tal, não foi necessário produzir os obrigatórios 200 GTOs para a homologação. Porém a procura por este modelo foi enorme, uma vez que depois do seu lançamento, em 1984, passou a ser o carro de produção mais rápido até então, e a Ferrari acabou mesmo por construir 272 exemplares.

De facto o GTO nunca conseguiu mostrar todo o seu potencial na competição, mas para dizer a verdade nem precisou, porque o seu desempenho dinâmico, a sua raridade e beleza, assim como as suas fantásticas performances, associadas a três letras (GTO) com enorme história e pedigree na marca italiana, faz com que este automóvel seja só por si um clássico e um ícone no mundo automóvel.

Sérgio Gonçalves

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