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O Famoso Grupo B de Rali

rally grupo B

Já abordámos e dissecamos aqui no Autblog.pt os principais carros que participaram no famoso e emblemático Grupo B de ralis. Mas o que era este Grupo e o que faz com tenha sido tão especial? Porque ficou eternamente lembrado como os anos de ouro do Mundial de Ralis? É com este artigo que esperamos esclarecer os nossos leitores.

Antes do período e era do Grupo B, haviam como é claro outros automóveis em competição, que sua maior parte, eram de tração traseira com cerca de 250 cavalos de potência em média, porque se tivesse mais cavalos desperdiçavam-nos, por culpa da falta de tracção natural em muitos pisos do Mundial de Ralis. Existiam duas classes naquela época, uma era o Grupo 2 e o mais popular Grupo 4. As regras para o Grupo 4, obrigava as marcas a produzir no mínimo 400 automóveis de determinado modelo a fim de atender aos requisitos da homologação, e também, incentivar os fabricantes a usar automóveis comuns. Alguns dos carros de rali mais famosos deste período foram o Lancia Stratos, o Fiat 131 Abarth, e o Porsche 911.

audi-quattro-group-b-rally-car

No entanto, em 1979, a FISA (Fédération Internationale du Sport Automobile, o organismo que ditava as regras e regulamentos para os ralis) legalizou e permitiu o uso de tracção integral para os ralis. No entanto os fabricantes envolvidos nos ralis naquele período, consideravam as quatro rodas motrizes como um sistema muito pesado e complexo para ser bem-sucedido. Interessante saber que naquela fase não poderiam estar mais enganados, como o tempo assim o provou.

Quando a Audi lançou o seu carismático e inovador Quattro em 1980, anunciou que a sua intenção era de participar nos ralis em 1980 e 1981 de forma a desenvolver o Quattro e o seu sistema de tracção integral. O potencial das quatro rodas motrizes foi exibido ao mundo quando o piloto oficial da Audi, Hannu Mikkola usou um Quattro como um veículo de abertura de um troço num rali. Se Mikkola tivesse a participar de forma oficial, ele teria vencido com nove minutos de avanço sobre os seus adversário.

audi-quattro-group-b-snow

Quando o Audi Quattro entrou (e ganhou) o seu primeiro rali em 1980 na Áustria, a maioria dos outros fabricantes e respectivas equipas percebeu que a era das duas rodas motrizes nesta modalidade tinha chegado ao fim.

A Audi continuou o desenvolvimento durante a temporada em 1981, vencendo vários ralis do mundial, incluindo o rali de San Remo, um evento histórico, pois foi o primeiro rali internacional a ser ganho por uma mulher, a destemida Michèle Mouton. Em 1982 a Audi firmemente estabelecida era o alvo a abater pelos adversários, e Mouton chegou mesmo a perder por pouco a coroa para o piloto alemão Walter Röhrl, que na altura pilotava um Opel.

lancia 037

Na temporada em 1983, houve a criação dos Grupos A e B, e o primeiro automóvel do grupo B a ser criado foi o Lancia 037. Ou seja, foi o primeiro grande rival da Audi a tentar a sua sorte perante o domínio alemão.

O 037 era diferente do Quattro em inúmeros aspectos fundamentais, o seu motor ao contrário do Audi, usava um compressor em vez de um turbo, e tinha apenas tracção traseira, porque a Lancia continuava a ter dúvidas do potencial das quatro rodas motrizes. Foi, no entanto, um carro de rali do Grupo B (o Quattro naquele período ainda foi construído para as especificações do Grupo 4), e eram necessárias construir 200 unidades para a respectiva homologação.

Lancia 037 portugal 1984

As equipas de rali que participavam com carros do grupo B também poderiam produzir evoluções dessas mesmas versões dos seus carros, e apenas 20 unidades seriam necessárias. O Grupo B também tinha restrições de peso mínimo, mas foi permitido o uso de materiais compósitos (leves) de alta tecnologia na construção dos automóveis. Estes elementos, além dos fabricantes com recursos ilimitados, permitiram que o Grupo B evoluísse muito rapidamente. Deste forma os níveis de performance destes automóveis aumentaram a um ritmo diabólico.

Verdade seja dita, o Lancia 037 ficou instantaneamente em desvantagem, devido à sua falta de tracção às quatro rodas. O sistema de tracção integral da Audi permitia colocar a potência no solo com mais facilidade devido à sua maior tracção. Os sistemas de tracção às quatro rodas, também provaram ser muito mais suaves com os pneus, por isso a Audi conseguia correr com pneus mais macios de forma a aumentar a tracção sem desgaste prematuro. No entanto, o Quattro teve uma série de falhas (mecânicas) que permitiram que o 037 conseguisse conquistar o título de construtores em 1983. O Quattro não era fiável, era de certa forma desajeitado e difícil de conduzir, e seu motor dianteiro, montado num chassis monocoque, depressa ficou obsoleto com a chegada do Peugeot 205 T16 que tinha participado pela primeira ver no Rali da Córsega em 1984.

peugeot-205-ti-16

O ritmo e capacidades do 205 T16 no Rali da Córsega chocaram a comunidade dos ralis. A Peugeot tinha construído uma equipa extremamente capaz, Ari Vatanen como piloto principal e Jean Todt (ex director da equipa Ferrari de F1) como responsável da equipa de rali. Vatanen não foi feliz no rali da Córsega, mas conseguiu dar a primeira vitória ao 205 no Rali 1000 Lagos na Finlândia mais tarde nesse ano. Por esta altura, a Audi tinha introduzido o seu Quattro Sport, enquanto o Lancia 037 já dava sinais de envelhecimento e não tinha andamento para a concorrência. A Peugeot parecia determinada a ganhar ambos os títulos de 1985, após um ano impressionante de preparação durante a temporada em 1984.

A Peugeot dominou a maior parte da temporada de 1985, mas as coisas não correram de acordo com o plano inicialmente traçado pela marca francesa. A Peugeot perdeu Ari Vatanen num acidente quase fatal na Argentina, dando a hipótese ao seu companheiro de equipa Timo Salonen, de ficar como o piloto principal. E Timo aceitou o desafio e conquistou dois títulos para a Peugeot. No entanto, em 1985 no Rali RAC, surgiram no mundial uma série de novos adversários prontos a desafiar o domínio da Peugeot. A Lancia estreou o modelo Delta S4, que possuía compressor e turbo, a Ford lançou o RS200, a Austin-Metro lançou seu novo Metro 6R4, e a Audi estreou o radical Quattro S1. Não se pense porém que a Peugeot ficou “parada” e respondeu à nova vaga de adversários, com a nova evolução do 205, o T16 Evolution 2.

Henri-Toivonen-lancia-delta-s4

O ritmo da tecnologia no Grupo B foi surpreendente, mas a FISA já planeava a criação do Grupo S. O Grupo S era para ser uma classe que permitiria que os fabricantes produzissem carros altamente futuristas, e apenas 10 unidades eram necessárias para a homologação.

No entanto, o inevitável acabou por acontecer. Durante o Rali Vinho do Porto em Portugal no ano de 1986, um Ford RS200 saiu da estrada e despistou-se, matando três e ferindo dezenas de espectadores. Após o acidente, todas as equipas de fábrica retiraram-se do Rali. Mas o golpe final para o Grupo B veio no dia 4 de maio de 1986.

ford rs200 rally group B

O principal piloto da Lancia, Henri Toivonen, que dominava o campeonato de 1986, teve um final trágico quando no Rali da Córsega S4 saiu da estrada numa zona sinuosa. O carro ao despistar-se bateu em árvores e rochas, enquanto descia uma encosta. Toivonen e o seu navegador, Sergio Cresto, acabaram por falecer. Não houve testemunhas do acidente, e o fogo subsequente destruiu por completo o carro, deixando os restos do Lancia irreconhecíveis. O calor do fogo foi de tal modo intenso que tudo o que restou do carro foi o roll-bar que ficou carbonizado. Depois deste trágico acontecimento, o Grupo B e o Grupo S, foram imediatamente cancelados para a temporada de 1987, e a Ford e a Audi retiram-se imediatamente do Grupo B. As equipas de outras marcas decidiram continuar mas apenas viram o resto da temporada como espectadores.

No mesmo mes, um outro acidente marcava o Grupo B. Num Rali na Alemanha, o piloto da Arrows de Fórmula 1 Marc Surer, juntamente com seu co-piloto, o alemão Michel Weyder, tiveram este incrível acidente num Ford RS200. O carro perdeu o controlo numa zona de alta velocidade e chocou contra duas árvores localizadas próximo da pista. No impacto, o carro foi dividido em dois e formou-se logo uma enorme bola de fogo.Michael Weyder morreu imediatamente e Marc Surer, apesar de gravemente ferido, sobreviveu. Um helicóptero filmou o acidente.

acidentes-rs200

Para quem não se lembra, este mês de Maio de 1986 seria trágico para o automobilismo, com 5 pilotos a morrerem no espaço de 30 dias, entre os quais Elio de Angelis e Jo Gartner.

Resumindo o Grupo B era de facto fantástico. Os automóveis de ralis que vieram em sua substituição, como o Grupo A e os WRC, não conseguiram ainda igualar as velocidades e potências dos carros de Grupo B, mas mais relevante não conseguiram até hoje igualar o carisma e inovação. O Grupo B viveu um período curto, mas muito interessante, e que nunca será esquecido.

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Sérgio Gonçalves

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